Palavra do Grão-Mestre - Pronunciamento de posse
Ao ser fundada há 90 anos na cidade de Bagé, a Grande Loja Maçônica do Estado do Rio Grande do Sul, definiu que sua sede seria em Pelotas, e da Loja Fraternidade nº 3 foi escolhido o primeiro Grão-Mestre, Manoel Serafim Gomes de Freitas. Surgia no cenário maçônico e na esteira do movimento mundial de separação da Maçonaria Azul da Vermelha, liderado no Brasil por Mário Marinho Behring, a oitava Grande Loja brasileira.
Nos anos que se seguiram construiu-se um respeitável patrimônio físico, moral e espiritual. Também como resultado desse esforço, desfrutamos hoje de uma honrosa imagem no cenário maçônico. A todos os Irmãos do passado, os quais tornaram possível esse legado que muito nos orgulha, o reconhecimento sincero.
Assim, é em honra a toda essa história, e de seus protagonistas dos quais muito se poderia falar e enaltecer, que realizamos no sábado, 6 de janeiro, a cerimônia de posse do Grão-Mestrado 2018-2021, impregnada de resgate de nossas tradições, seja pelo retorno da posse ritualística de Grão-Mestre, seja por reviver essa prática exatamente na primeira sede da Grande Loja. Pessoalmente foi de grande significado, tanto para mim como para o Eminente Grão-Mestre Adjunto, Irmão Tadeu Gomes Xavier, uma vez que somos naturais da acolhedora Pelotas.
Passaram-se 28 anos desde que fui Iniciado na noite de 26 de outubro de 1989, em uma vibrante Sessão na Loja Atlântida nº 15, com a presença do inesquecível Grão-Mestre, Luiz Carlos Costa. Daquele momento já quase perdido no tempo poucos rostos permanecem entre nós.
Tive o privilégio de conviver e aprender com ícones da nossa Grande Loja que hoje adornam o Oriente Eterno. Figuras como Felipe Lechtmann, em honra de quem fundamos a Loja nº 112, Adayr Paulo Modena, Osvaldo Nunes, Kurt Max Hauser, Célio Sefrim, João Silveira Pereira, Manoel Gomes, e são tantos outros, que tentar relacioná-los seria cometer a injustiça de omitir alguém.
Na Grande Loja, há 17 anos, fui "iniciado" pelo Grão-Mestre José Wohlgemuth Koelzer Neto, a quem sou eternamente grato, não só pela amizade, como também pela confiança dispensada, primeiro no então Grande Conselho de Ética e Disciplina e depois nas funções de Grande Orador.
Que ápice inimaginável, meus Irmãos, para aquele jovem Aprendiz de 1989, quantos momentos maravilhosos vividos. E que alegria chegar aqui, em uma parceria entusiasmante com o Irmão Tadeu, a quem externo meu respeito por sua figura e conhecimentos, bem como admiração por sua postura reta e digna, ombreando comigo sem receios ou reservas, desde o primeiro momento desse desafio a que nos propusemos.
Assim, por tudo isso, o pensamento primeiro é o de agradecimento; ao Grande Arquiteto do Universo, sempre; à família, que me apoia sem reclamar das frequentes ausências; e aos Irmãos, pelo constante incentivo e parceria que me moveu a acreditar e prosseguir.
Embora a confiança expressada nos números do último pleito eleitoral, (quase 85% dos votos válidos) possa sugerir uma acomodação, tenham a certeza de que é exatamente por essa razão que sentimos nossa responsabilidade aumentar.
Reafirmamos o compromisso assumido na campanha eleitoral de intensificar a aproximação das Lojas com a administração da Grande Loja e elas entre si, fortalecendo nossas relações, nos conhecendo mais e, principalmente, divulgando as melhores ações, projetos e iniciativas das jurisdicionadas.
Temos a convicção de que a Grande Loja só será forte se todas as suas células forem fortes, da mesma maneira que se mede a força de uma corrente pelo seu elo mais fraco. Assim como acreditamos desde sempre que a razão de ser da Ordem são as Lojas, a elas, portanto, toda nossa atenção e cuidados.
Acreditamos na evolução pela reflexão e estudo, baseado em um aprendizado estruturado e pensado. Acreditamos ainda que a missão primeira da Ordem é a formação do Mestre Maçom, solidificando seus conhecimentos mínimos no que tange à sua história, legislação, ritualística e liturgia.
A administração da Grande Loja, como entidade diretiva que é, deve cumprir o papel de instrumentalizar as Lojas, oportunizando e fomentando cursos de formação e aperfeiçoamento, revisando o material didático de apoio e instrução. Organizar e apoiar a realização seminários, simpósios, ciclos de estudos e palestras em todas as regiões do Estado será uma das maneiras pelas quais queremos estimular o fortalecimento da nossa instituição.
Como maçons, precisamos de mais olho-no-olho, precisamos nos conhecer e interagir mais, mas mais que isso, precisamos nos compreender mais. Harmonizar nossas diferenças. Sermos maçons não nos torna iguais, se não que nos permite a compreensão de que sim, somos Irmãos, apesar de nossas diferenças, crenças e premissas e que a tolerância que pregamos não é para com o erro, mas com essas diferenças que nos caracterizam como um perfeito mosaico de credos, cores políticas, agremiações comerciais e/ou profissionais e tantas outras.
Acreditamos que a instituição deve ser preservada de exposições públicas, até em respeito a essas diferenças que nos caracterizam. Por tal razão, temos a convicção de que o homem/maçom, anonimamente em relação à Ordem é que deve disseminar e ajudar a cultivar e desenvolver no tecido social os valores que tanto buscamos preservar. Nós devemos ser o agente de transformação social que tanto desejamos. Com essas convicções e como cidadãos que somos, nosso primeiro compromisso deve ser de espargir no meio socioeconômico em que estamos inseridos a preocupação com a evolução através de trabalho digno, a busca constante de um comportamento ético, honesto e leal, com a valorização das instituições, com o respeito a valores inegociáveis como família, pátria e liberdade.
À administração que encerrou o seu período e da qual tivemos a honra de participar, expressamos o nosso agradecimento institucional pelos serviços prestados, experiências compartilhadas e ensinamentos ministrados.
Aos queridos Irmãos das nossas Lojas jurisdicionadas, tributamos nosso sincero carinho e estima, tenham a certeza de que tudo faremos para continuar merecendo o brilho de satisfação no olhar em cada vez que nos encontramos. Os cargos e funções que por ventura exercemos são transitórios, o que paga nosso salário é, sim, a satisfação dos Irmãos. Isso nunca deve sair de nossa mente!
Arregacemos, pois, as mangas e vamos ao trabalho, muito já foi feito, mas muito ainda há por fazer e se a missão parece difícil, lembremos as palavras de Antoine de Saint-Exupéry: "Se você quer construir um barco, não junte pessoas para coletar madeira e distribuir tarefas, antes ensine-as a desejar a imensidão infinita do oceano."
Que o Grande Arquiteto do Universo nos ilumine e ampare a todos, sempre!
Norton Valladão Panizzi
Grão-Mestre